A indignação!!!

Artur Júnior dos Santos Lopes

Boa noite Sr. Lasier Martins

Me chamo Artur Júnior dos Santos Lopes, resido em Porto Alegre, sou profissional da área de Tecnologia a mais de vinte anos, tenho três filhos, pago meus impostos, tenho trinta e sete anos, sou bacharel em filosofia. Primeiramente gostaria de lhe parabenizar o discurso, liberal, mas eloquente.

Eu trabalho no Centro Histórico de Porto Alegre, e passei pela movimento de Defesa Pública da Alegria, e ali estive por alguns instantes, assim tendo integrado este movimento por volta das 18:30 e 19:00. Aos 5:26 da sua reportagem, o Sr. fala que “... foram identificados alguns mesmos baderneiros” por favor cite todos os baderneiros que foram identificados no movimento! O Sr. também, ao final da sua reportagem classificou as pessoas que estavam no movimento como “Vândalos”. Sr. Lasier Martins, posso falar por mim: Não destruí nenhum patrimônio privado, nem público. Sou devoto do pacifismo. Me senti extremamente ofendido por sua colocação maldosa a meu respeito, pois como estava no local que o Sr. citou, simpatizo com tal movimento, sou diretamente ofendido, ofendeu minha estima, me senti ultrajado, sem a menor possibilidade de me defender uma vez que o Sr. falou isso em rede pública de televisão. Ainda não procurei mais pessoas que estão nesta mesma situação, mas nos momentos em que estive ali, pude perceber muitas pessoas nas mesmas condições que as minhas.

Em um segundo momento, Sr. Martins, creio que as mídias de comunicação de massa deveriam ser um serviço público, e não uma forma de expressão de um ponto de vista unilateral. Por que digo isso? O Sr. tem uma grande capacidade intelectual, e uma envergadura como formador de opinião impressionante, frutos do seu trabalho. O Sr. deveria mostrar outros lados do fato. Como falei anteriormente sou pacifista, não acredito que a violência resolva questões. As lutas podem se dar por demandas judiciais, creio que sejam mais proveitosas. Por isso concordo que o que ocorreu na noite de quatro de outubro de dois mil e doze foi depredação de patrimônio público e privado. Isso é Crime. E uma das funções do sistema judiciário é punir o crime. Mas esta, não me parece ser a única função do crime no que se refere ao sistema judiciário. Trataremos disso adiante.

Francamente Sr. Martins, “discutir democraticamente o nome do mascote da copa”? Creio que seja valoroso discutir qualquer questão democratimente, mas será, talvez, que não tenhamos coisas mais importantes para discutirmos com a nossa população? Por exemplo: onde deve ser o carnaval? Qual o jogador de futebol é o exemplo para os demais? Qual o time deve ser campeão? Ou também: O que é o crime? Qual o papel do crime para a ampliação do sistema jurídico? Por que o crime ocorre?

Talvez pudéssemos nos esforçar na composição de algumas respostas. Acredito que a precisão das respostas não sejam o mais relevante, mas o importante seria o questionamento. O que infelizmente ocorreu em sua reportagem mas teve uma resposta em forma de “Doxa” uma subjetividade sobre os participantes que em nada qualificou a discussão.

O Sr. poderia ter feito um questionamento que já teria me deixado satisfeito: por que tal boneco foi atacado? A resposta que o Sr. dá é de que “são baderneiros”... “são vândalos”. Estas respostas não respondem a pergunta. Me parece que existem outros componentes que poderiam nos ajudar na resposta:

Dentre eles creio que A luta por reconhecimento iniciada por Hegel e depois atualizada por Axel Honneth poderia nos ajudar a esboçar uma resposta. Para Hegel o crime, por lesar o sujeito como um todo, tem a característica de fazer com que a reflexão sobre o evento seja suprassumido para uma esfera (ordenamento juridico) onde os sujeitos buscam o reconhecimento de algo que lhes é importante, mas que até determinado momento ainda não foi reconhecido legalmente. Por isso, em tendo ocorrido um crime no dia quatro, é necessário que se identifique não apenas os criminosos, mas que esta crise que fica explicitada por este crime sirva para desvelar um problema que ali ocorre. No meu ponto de vista, orientado por um viés hegeliano, poderia sugerir que o que fica explicito no problema ocorrido é a incapacidade do Estado (organização) de gerir-se, por conta de um desmantelamento promovido pela especulação financeira, que investe e exige retorno. O estado não é o representando do povo, mas representante do interesse do capital. Isso desqualifica um estado. Pois que o estado deveria ser o garantidor das expressões humanas de uma população.

Sr. Lasier Martins, creio que a análise do fato passe por esta outra visão também. Isso é minha posição, creio que o que eu escrevi não é nenhuma novidade para o Sr. Mas por que o Sr. também não apresenta este aspecto, a fim de utilizar o meio de comunicação para esclarecer a população, para evitar que eventos tristes como o que ocorreram no dia quatro não mais voltem a acontecer na nossa cidade? Uma cidade que não precisa de derramamento de sangue para resolver suas questões. Temos que capacitar o cidadão para recorrer a esferas que possam resolver os desrespeitos de maneira pacifica. Pelo visto isto não lhe importa, pois em nenhum momento pude perceber sua indignação quanto aos feridos que esta legítima Luta Por Reconhecimento geraram.

Sr. Lasier meus cumprimentos, lhe desejo uma boa noite!

Porto Alegre, 6 de outubro de 2012