Buscas em Goldman: O que é uma crença?

Artur Júnior dos Santos Lopes

O que é uma crença? Crença é tudo aquilo no que acreditamos. Posso acreditar que hoje vai chover. Posso crer que hoje é sábado. Posso crer que este trabalho será um sucesso. Podemos crer muitas coisas todos nós. Podemos crer que o Grêmio será campeão mundial este ano. Podemos crer que o Inter será rebaixado. A crença aqui fica ao sabor de nosso humor (hoje é sábado), de nossas preferências (o grêmio será campeão mundial este ano), de nossos interesses (este trabalho será um sucesso). Contudo estas crenças não tem uma relação necessária com a realidade. Assim eu me pergunto: Alguma crença tem alguma relação necessária com a realidade?

Esta resposta vai variar de acordo com o posicionamento que alguns filósofos tem com o conhecimento. Fundacionistas (Goldman), coerentistas (Popper), Céticos (Gettier) apresentariam diferentes possibilidades. Neste momento vou me deter na teoria de Goldman que procura sustentar a plausibilidade de que uma crença pode estar justificada dependendo do método utilizado para chegar até a crença. Goldman não está falando da possibilidade do conhecimento e sim de uma forma de justificar as coisas nas quais se acredita.

Mas então: isso é assumir que não se pode falar nada sobre o conhecimento? Apenas podemos apresentar justificativas aceitáveis ou não para o que percebemos no ambiente?

O ser humano, em sua história, parece procurar bases firmes onde assentar convicções.Durante muito tempo não distinguia-se o ser humano do ambiente em que estava envolvido. Com o passar do tempo começou a desenvolver um distanciamento do ambiente e perceber-se outro. Percebeu-se diferente do mundo. Ele estava no mundo mas não se resumia no mundo. Como explicar este distanciamento? Parece que esta questão torna-se fundamental. O que sou e o que é o mundo? Posso me fundir novamente com o mundo? Parece que este caminho não deixa espaço para volta. Uma vez que o ser humano não pode mais voltar a esta fusão inicial procura explicar o que seja o mundo em que está inserido. Mitos em geral se apresentam como uma primeira forma de explicar este mundo.

Com o tempo e o desenvolvimento intelectual do ser humano os mitos não davam mais conta de explicar o mundo. Procura-se então uma nova forma de explicar o mundo. Uma forma mais intelectualizada. Logo se percebe que a intelectualidade não dá conta de explicar o mundo. Surge em oposição o questionamento: Será que existe mesmo este mundo? Será possível conhecer o mundo? Será possível explicar este mundo que se conhece?

Inúmeros esforços foram empregados para tentar responder estas questões. Destaco dois:

negativo: se houver um mundo não é possível conhecer-lo, e se o conhecermos não podemos explicá-lo, esta é uma rasa apresentação da visão cética que apresenta uma forma negativa de tratar a condição de conhecimento humano perante o mundo;

positivo: mesmo que seja impossível conhecer o mundo não fica invalidada a tentativa de conhecê-lo. Esta forma parece buscar, dentro das capacidades humanas, um possível entendimento humano das coisas.

Quero ater-me aos que procuram um modo positivo de encarar a questão. Em especial ao Sr. Goldman que propõe duas teorias que se sucedem na tentativa de realizar verificações do que seriam boas respostas para a pergunta: Podemos conhecer algo?

Primeiro nos oferece a pretensiosa teoria do Causalismo, onde o conhecimento é possível quando tenho uma causa captada por um sistema cognitivo bem adaptado ao ambiente. Goldman procura responder a todas as questões da Epistemologia com esta Teoria, e com ela busca refutar os problemas do tipo Gettier. Não é de surpreender a sua falha. Contudo, gostaria de me deter na segunda tese de Goldman onde a pretensão fica bastante reduzida e busca-se qualificar o conhecimento com base no Confiabilismo. Agora não é a causa que pode gerar o conhecimento e sim o processo que emprego na busca de validação de uma crença. Se os processos que utilizo para chegar a formar a minha crença são bons, são epistemologicamente virtuosos, então posso chegar a imaginar a possibilidade de uma crença que seja pretendente ao conhecimento.

Goldman formaliza seu Teoria da seguinte forma:

*. Se a crença de S em p em um tempo t resulta de um processo cognitivo confiável e não existe nenhum processo confiável ou condicionalmente confiável disponível para S o qual, se fosse ele utilizado [had it been used] por S como adição ao processo utilizado de fato, teria como resultado [would it have resulted] que S não acreditaria em p em um tempo t, então a crença de S em p em um tempo t é justificada.

Assim se tenho uma crença advinda de um processo cognitivo confiável e não tenho nenhum outro processo confiável que contradiga o primeiro tenho uma crença justificada.

Goldman no artigo intitulado Epistemic Folkways and Scientific Epistemology, nos apresenta algumas formas de confiarmos nos processos que nos levam ao conhecimento. Ele separa as faculdades que levam ao conhecimento: virtudes (excelências) e as faculdades cognitivas que não levam ao conhecimento: vícios.

Apresenta as virtudes com o sendo: a visão, a audição, memória, correto raciocínio. Os vícios se apresentam como: as adivinhações, pensamentos desejosos, a ignorância de evidências contrárias.

A partir do momento em que tomamos os vícios e as virtudes como balizadores das crenças que podem ou não se candidatarem ao conhecimento estamos estabelecendo bases mais firmes sobre onde assentar nosso conhecimento.

Com base nestas explicações, o Sr. Goldman começa por refutar os exemplos dados pelo Sr. Bounjour. O exemplo de fala de um vidente que sem saber-se sendo tem a intuição de que o presidente esta na cidade x quando deveria estar na cidade y. O Vidente está certo mas não sabe que está certo. Logo para Bounjour fica evidente a falha da teoria de Goldman, pois o vidente tem um processo confiável para chegar ao conhecimento mas o despreza.

Em defesa da tese, Goldman, coloca que a Vidência não está listada como uma das virtudes cognitivas, logo, não leva ao conhecimento.

Temos assim atingido um de nossos desejos mais íntimos o de conseguirmos chegar a uma base sólida de conhecimento.

Porto Alegre, 17 de Outubro de 2008