Freud, educação e psicanálise.

Artur Júnior dos Santos Lopes

INTRODUÇÃO

Neste trabalho há um esforço de trazer para a turma uma visão geral de Freud. Para isso separei-o em duas partes. Uma vai colocar uma rápida biografia, pois entendo que este trabalho não tem cunho historiográfico, apenas visa remeter ao cenário em que Freud vivia, A segunda é o resultado de uma pesquisa que destaca como Freud via a aprendizagem.

1 BIOGRAFIA DE SIGMUND FREUD

Sigismund Schlomo Freud ou simplesmente Sigmund Freud, nasceu a seis de maio de mil oitocentos e cinqüenta e seis em Freiberg, Moravia, atualmente Pribor, Checoslovaquia.

Na Universidade de Viena cursou Filosofia com Franz Brentano, mas mudou para a Medicina especializando em fisiologia Nervosa. Interessou-se pela hipnose, em especial a “cartasis”, método desenvolvido por Joseph Breuer que consistia “em levar o paciente a recordar, pela hipnose ou por conversação, o trauma psicológico sofrido, uma descarga emocional que conduzia à cura” (COBRA). Ousou interpretar seus próprios sonhos e dar a esta interpretação cunho científico. Gradualmente foi substituindo a hipnose pela análise, que consistia em levar o paciente até fatos traumáticos através do direcionamento do diálogo, semelhante a cartasis mas aqui sem hipnose.

Em 1908 constituí-se a Sociedade Psicanalítica de Viena, que em 1910 tornou-se a Associação Internacional de Psicanálise. Esta sociedade teve seus primeiros passos em 1902, quando Freud, em sua casa reunia médicos e outros profissionais das ciências naturais.

O trabalho de Freud gerava grande polemica no meio médico vienense, o que levou ao esvaziamento da Associação Internacional de Psicanálise. Seguem algumas das críticas tecidas na época

Freud efetivamente argumentou que o comportamento humano obedece ao instinto sexual e ao instinto de conservação e que os motivos sexuais, se não são claros, estão sublimados em um motivo aparente. Sua teoria esta bastante conforme ao pensamento metafísico de Schopenhauer de que uma Vontade universal, soberana e cega, deseja a sobrevivência da espécie e se traduz no sexo, e também a sobrevivência individual, e se traduz no instinto de conservação.

O principal motivo do escândalo era o modo desenvolto como Freud divulgava seu pensamento ainda mal acabado sobre o problema sexual das crianças, que ele afirmava serem sujeitas a desejo sexual e que o objeto desse desejo freqüentemente eram os próprios pais. Além do complexo de Édipo, em que o filho deseja sexualmente a mãe (Na tragédia grega desse nome, Édipo se casa com sua mãe, sem o saber), Freud admitiu também o Complexo de Eletra, como a inveja que a menina tem do pênis do menino, e chamou a criança de um "perverso polimorfo". Distinguiu na sexualidade três fases pelas quais passa o seu desenvolvimento: as fases oral, anal, genital, que normalmente se sucedem nessa ordem, mas com casos de regressão e fixação. Sua reputação sofreu ainda mais quando publicou em "Fragmentos da análise de um caso de histeria", as perversões sexuais de uma jovem cliente, - na ficha médica "Dora" -, sem a sua permissão. (COBRA)

Após a primeira guerra mundial (1918) Freud fez um movimento de suavização do argumento do instinto sexual como força propulsora do comportamento. Preferiu o “Principio do Prazer e Desprazer” e depois o “instinto de morte”.

Considera-se a sua mais importante contribuição o escrito de 1922 O Ego e o Id, onde fica exposta sua teoria de constituição da mente em Id, Ego e Superego.

O conceito do Id, o reservatório dos impulsos instintivos, é uma cópia da parte concupiscente da alma na doutrina de Platão; o Ego trata com a realidade do mundo exterior e o Superego é o inibidor dos instintos, tais como a parte sábia e a parte vigilante da alma, da mesma doutrina platônica. Porém, como ateu e materialista convicto, para Freud o homem é o que ele é, um produto da evolução natural, sujeito, em última análise, às leis da física e da química. Nada do que uma pessoa diz ou faz é casual ou acidental; o homem nem é perfeitamente livre nem racional- Obedece a causas inconscientes (Marx sociais e econômicas, Freud, mentais e individuais). A força que orienta o comportamento estaria nesse inconsciente e era o instinto sexual; essa força não se apresentava consciente devido à "repressão" tornada também inconsciente. (COBRA)

No trabalho de 1930 o Mal estar da Civilização aparece, entre diversos conceitos, o de Sublimação.

2 VISÃO GERAL DE FREUD SOBRE A EDUCAÇÃO

Aqui procuro apresentar a visão que Freud apresentou sobre a Educação. Dada a extensão da obra do autor, e somado o exíguo tempo para o seu aprofundamento, deixo todos muito à vontade para as inferências que se fizerem necessárias. Daqui já aproveito para citar: “o trabalho da educação é algo sui generis: não deve ser confundido com a influência psicanalítica e não pode ser substituído por ela” (FREUD in MARTINS)

La situación es la misma que cuando la gente lee trabajos psicoanalíticos. El lector resulta 'estimulado' solamente por aquellos pasajes que siente que se aplican a él mismo; esto es, que conciernen a conflictos que son activos en él en aquel momento. Todo lo demás le deja frío. Podemos tener experiencias análogas, pienso, cuando damos a los niños una aclaración sexual. Me hallo lejos de mantener que esto sea una cosa perjudicial o innecesaria, pero está claro que el efecto profiláctico de esta medida liberal ha sido grandemente hipervalorado. Después de esta aclaración los niños saben algo que antes no sabían, pero no utilizan los nuevos conocimientos que se les han facilitado. Incluso llegamos a ver que no tienen prisa por sacrificar a estos nuevos conocimientos las teorías sexuales, que podrían ser descritas como un crecimiento natural, y que ellos mismos han construido en armonía y dependencia con su organización libidinal imperfecta - teorías acerca del papel desempeñado por la cigüeña, respecto a la naturaleza del contacto sexual y sobre el modo cómo se hacen los niños. Mucho tiempo después de haber recibido la aclaración sexual se comportan igual que las razas primitivas que han recibido la influencia del cristianismo, pero continúan adorando en secreto sus viejos ídolos. (SLOMP)

Millot, citado por Martins, vê em Freud a afirmativa que educação, psicanálise e a arte de governar são profissões impossíveis, pois embasam-se sobre o poder que um ser humano pode exercer sobre outro.

Freud sustenta a origem da pulsão epistemofílica (desejo de conhecer) está no prazer ou satisfação em relação ao objeto do conhecimento. Da mesma forma, se este objeto do desejo não está acessível ao sujeito há o sofrimento psíquico. Freud acreditava no beneficio que analise poderia trazer para o professor, também cria que os professores precisavam conhecer as estruturas mentais geradas nos primeiros anos da infância e as influencias que exercem sobre o indivíduo, pois só assim, de posse desta compreensão poderiam compreender seus alunos, alunas.

Freud via a educação como uma “Fábrica de neuroses” pois o ato educativo é violento em si, prende-se a obrigações, regras artificialidade, como explica Freud “perseguem como ‘vícios’ todas as suas manifestações sexuais, mesmo que não possam fazer muita coisa com elas” (FREUD 1975, p.167 in MARTINS.)

Assim, a educação tem de escolher seu caminho entre o Sila da não-interferência e o Caríbdis da frustração... deve-se descobrir um ponto ótimo que possibilite à educação atingir o máximo com o mínimo de dano. Será, portanto uma questão de decidir quanto proibir, em que hora e por que meios (Freud, 1933, p.182 in MARTINS).

Talvez a aproximação entre a psicanálise e a pedagogia, possibilite “compreendermos muito bem como interpretar em outras pessoas os mesmos atos que nos recusamos aceitar como mentais em nós mesmos” (Freud, 1974, p.195 in MARTINS).

Isto não significa dizer que a psicanálise dará conta de todos os problemas da educação e menos que seja a única forma de minimizar tais problemas. Creio que a filosofia e os processos de problematização, principalmente do: desarreiamento da realidade, do que está posto, pode prestar auxilio, não os resolvendo, mas apontando diversas outras possibilidades.

CONCLUSÃO

Para Freud a educação e a psicanálise se aproximam por serem impraticáveis uma vez que se postam sobre o poder que um ser humano exerce sobre outro. Também pode-se perceber no seu discurso que a educação visa um enquadramento da criança em um modelo, que não corresponde a natureza da criança ou dos instintos humanos. Para ele executa-se o processo socializamento do ser humano violentando seus desejos inconscientes.

Daí surgem as perguntas, por que Freud era cético quanto a educação? De onde pode ele conceber a violência da educação? Que educação é esta a que Freud se refere? Que psicanálise é esta? Será a psicanálise aprendida na Academia? Como Freud via a Educação Infantil?

Estas questões ficam sem resposta neste momento, pois seria necessário um aprofundamento muito maior na obra de Freud para poder aventurar uma possibilidade de resposta. Ante o reconhecimento do limitado saber que tenho, fica o convite a quem tiver mais ânimo a lançar-se na busca a tais respostas!

BIBLIOGRAFIA

MARTINS, M. R. R. (2005). (Im)possibilidade de conexão entre psicanálise e educação. Guia de Psicologia Sobresites. Agosto/2005. Disponível em www.sobresites.com/psicologia

COBRA, Rubem Queiroz. Sigmund Freud. Outubro/2005. Disponível em http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-freud.html

COUTO, Maria Joana de Brito D´Elboux. Psicanálise e Educação: A Sedução e a Tarefa de Educar. Avercamp. São Paulo. 2005, 130 p.

SLOMP, Paulo Francisco. Análise Terminável e Interminável. Outubro/2005. Disponível em http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01135/freud-at.htm

Porto Alegre, 20 de Novembro de 2005