Foucault - História e Descontinuidade (Resumo)

Artur Júnior dos Santos Lopes

Qualquer coisa que se escreva após Foucault fica ofuscado pelo brilhantismo do autor. Fazer um resumo de um artigo, dele, é quase impossível dada sua capacidade de síntese ao abordar assuntos como a "História e a Descontinuidade" que rendem elementos para uma tese.

Foram necessárias diversas leituras de suas quatro páginas e meia para me encorajar a escrever algo. Primeiro extrair do texto algo com o que "brincar". E a dificuldade não se deu pela escassez de idéias. Muito pelo contrário. O torvelinho que me perpassou sim. A falta de profundidade que me acometia. Enfim foi necessário refletir, amadurecer, e finalmente escrever.

Já no começo esbarrei com a dificuldade. Será que Foucault está descortinando a sua visão de uma história fragmentada e por isso irreconstitutível? Brinca, comigo, como quem quer mostrar o que não se pode alcançar? Aprofundei.

Vi que o autor mostra uma fragmentação parcial da história que começou a ocorrer, mas que não precisou a data. "Algumas dezenas de anos" diz ele. Neste momento percebi que o mosaico ganhava mais dimensões. Profundidades que até então não estavam contempladas em uma perspectiva histórica. Mas isso evidentemente não referia-se a uma descontinuidade. O que no inicio cheguei a imaginar. A referência era a segmentação que a historia dava fazia a algumas áreas por tratar de ritmos muito diferentes. Daí uma ladainha insípida. O que isolar? Como fazer? Mas o foco permanecia o mesmo. Manter a continuidade história. Não permitir que, a impossibilidade de orquestrar todos os elementos, pudesse macular a atividade história. Rio-me. Ainda assim tudo o que não se encaixasse, o que pudesse afrontar a estabilidade precisava ser esmaecido, escondido, ... "apagado" ...

Mas, a descontinuidade também teve outras abordagens, e até mesmo a postura do historiador ficou modificada diante da nova visão, pois que a análise histórica pretendia tomar a descontinuidade para isolar a vontade do historiador, para que desse credibilidade a descrição e para que ficasse demonstrada incessabiliade do trabalho histórico diante das diversas matizes que podiam aparecer nesta aquarela.

Agora a descontinuidade deixa de ser obstáculo. Torna-se parte da prática da análise histórica. Ainda assim, muitas são as vontades de manter a história como reduto da própria consciência humana. Mas as descobertas psicológicas, lingüísticas, etnológicas do século XX quebraram toda a possibilidade de encadeamentos. E então a história teve de se repensar e colocar-se como:

"a história que não é estrutura mas devir; que não é simultaneidade, mas sucessão; que não é sistema mas prática; que não é forma mas esforço constante de uma consciência que se recupera a si própria e que tenta aprender-se até o mais profundo das suas condições; a História que não é descontinuidade, mas longa paciência ininterrupta"

O desconforto, de alguns, dá-se não por um suposto desaparecimento do papel da história como recipiendária da consciência humana. Dá-se pois a história não se permite, mais, usar-se para a manutenção de privilégios e garantias como era outrora.

Porto Alegre, 19 de Setembro de 2005