Os Valores Segundo Vazquez

Artur Júnior dos Santos Lopes

Ilca Fernades Stein

Introdução

Na introdução do capítulo VI o autor apresenta a necessidade que temos de escolher entre os diversos atos possíveis. Esta escolha é fruto de uma preferência por atos morais mais dignos, moralmente mais elevados ou mais valioso. Por sua vez descartamos os que parecem menos valiosos ou com valor negativo.

O comportamento moral é axiológico (axios, do grego, valor), portanto pode ser classificado como bom ou positivo digno de louvor ou mau ou negativo e assim sofrer censura e condenação.

Diante do antes exposto é necessário que faça-se uma busca a natureza do valor, pois bem como nossos atos, também as obras de arte, os instrumentos e os materiais livres na natureza tem o seu valor.

1. QUE SÃO OS VALORES

Como objeto de seu estudo Vazquez propõe que nos ocupemos primeiro em estudar os valores das coisas materiais, quer naturais ou produzidas pelo homem, depois nos ocuparemos por dedução as condutas humanas.

Neste ponto o autor se detém na descrição física dos materiais que observa. Usa-se o exemplo da prata.

Podemos falar nela tal como existe em seu estado natural nas jazidas respectivas, e então um corpo inorgânico que possui certa estrutura e composição , bem como determinadas propriedades naturais que lhe são inerentes. Podemos falar também da prata transformada pelo trabalho humano e, então, já possuímos um mineral em seu estado puro ou natural, mas um objeto de prata . Como material trabalhado pelo homem, serve, neste caso para produzir braceletes, anéis ou outros objetos de enfeite, para a fabricação de serviços de mesa, cinzeiros, etc., podendo ainda ser utilizada como moeda.

Daí percebe-se que a prata tem um valor enquanto objeto natural e um outro valor humanizado. Em quanto objeto natural tem um valor isolado que interessa apenas a si mesma. Mas quando humanizado é necessário que se verifique propriedades:

Estéticas: “servir de enfeite ou produzir uma prazer desinteressado quando contemplado.”

Prático utilitárias: “servir para produzir objetos de utilidade prática”

Econômicas: “servir como moeda, de meio de circulação , entesouramento ou pagamento.”

Faz-se importante salientar que as propriedades naturais existem indiferentemente da relação do homem com o objeto e são independentes das demais propriedades que o homem lhe atribui. Opostamente as outras só existem em função da relação do ser humano com o objeto e são dependentes das características naturais.

2. SOBRE O VALOR ECONÔMICO

Analisaremos o valor econômico, em seus termos essenciais, pois será muito útil para a verificação do valor em geral, e também possibilitando um embasamento maior na tentativa de responder as questões básicas sobre a objetividade e subjetividade.

Aqui distinguem-se algumas características importantes. Uma mercadoria só tem um valor porque nos é útil. Assim percebemos que as suas características materiais satisfazem algumas necessidades humanas, mas este valor só tem sentido quando o material é usado, daí surgindo o valor de uso. Este valor apenas existe para o ser humano social, e sem a relação reciproca de características materiais e valor subjetivo.

Do valor de uso brota o valor de troca quando produtos específicos são produzidos apenas para serem trocados. Este produto recebe o nome de mercadoria e tem valor fixado pela abstração das propriedades úteis de ambas mercadorias envolvidas na troca, assim estabelecendo uma relação quantitativa, perdendo sua relação com o ser humano, tornando o valor de troca uma propriedade da mercadoria, alheia a sua utilidade. Este fenômeno Marx chamou de “fetichismo da mercadoria”.

Daí percebemos que os valores de uso e de troca apenas, por mais que pareçam atributos de uma mercadoria, apenas existem em relação com as características físicas do objeto e com o seu valor para o ser humano social.

3. DEFINIÇÃO DO VALOR

“concluímos que o valor não é propriedade dos objetos em si, mas propriedade adquirida graças a sua relação com o homem como ser social. Mas, por sua vez, os objetos podem Ter valor somente quando dotados realmente de certas propriedades objetivas.”

4. OBJETIVISMO E SUBJETIVOMO AXIOLÓGICOS

O subjetivismo axiológico transfere o valor do objeto para o sujeito. Ou seja deseja-se algo não pelo seu valor mas pelo que representa para o indivíduo de acordo com suas vivências pessoais. Neste ponto os partidários do subjetivismo estão corretos, mas erram quando não percebem que os objetos tem valor material independentemente do sujeito. Ainda é preciso identificar que as reações causadas por determinado objeto estão afetadas por uma complexa relação social. Por isso não podemos afirmar que as reações são exclusivamente individuais.

Já o objetivismo axiológico afirma que há objetos valiosos por si mesmos, sem a necessidade do sujeito, tem origem tão remotos como as da doutrina Metafísica de Platão da onde podemos destacar:

1. “Os valores constituem um reino particular, subsistente por si próprio, São absolutos, imutáveis e incondionados.”

2. “Os valores estão numa relação especial com as coisas reais valiosa que chamamos bens. Nos bens, encarna-se determinado valor: nas coisas úteis , a utilidade. Nas coisas belas, a beleza nos atos bons, a bondade”

3. “Os valores são independentes dos bens nos quais se encarnam, Isso é, para existir, não precisam de se encarnar nas coisas reais.”

4. Os bens dependem do valor que encarnam, São valiosos somente na medida em que suportam o u concretiza um valor.

5. “Os valores são imutáveis; não mudam com o tempo ou de uma sociedade para outra. Os bens nos quais os valores se realizam mudam de uma época para outra, são os objetos reais e, como tais, condicionados, variáveis e relativos.”

6. “Os valores não têm uma existência real seu modo de existir é - às maneira das idéias platônicas – ideal.”

E ainda o que se refere ao sujeito:

a) “Os valores existem em si e por si, independentemente de qualquer relação com o homem como sujeito que possa conhecê-los, apreendê-los ou avaliar os bens em que se encarnam. São pois, valores em si e não para o homem.”

b) “Como entidades absolutas e independentes, não precisam de ser postos em relação com os homens, coo também não precisam de ser relacionados com as coisas (encarnar-se em bens).”

c) O homem pode manter diversas relações com os valores: conhecendo-os – isto é percebendo-os ou captando-os - , produzindo os bens em que se encarnam (obras de arte, objetos úteis, atos bons, atos jurídicos, etc.). Mas os valores existem em si, independentemente das relações que os seres humanos possam manter com eles.

d) Podem historicamente variar as formas de relação dos homens com os valores ( as formas de concebê-los ou de realiza-los); podem até ser cegos para percebê-los numa determinada época. Contudo, nem a ignorância de um valor nem as mudanças distorcias no seu conhecimento ou na sua realização afetam minimamente a existência dos valores, já que estes existem de um modo intemporal, absoluto e incondicionado.

A crítica que é feita a este pensamento refere-se a valores que sem o ser humano não fariam sentido, daí cita-se a solidariedade, a amizade ou a lealdade. Ainda podemos perceber que até mesmo o mundo ideal é criação da mente humana.

5. OBJETIVIDADE DOS VALORES

Percebe-se quem nem o subjetivismo e nem o objetivismo conseguem responder a todas as questões que lhes são feitas, dada a complexidade social na qual o indivíduo está inserido e também a dependência que tem deste sujeito.

Mas é possível perceber que os valores são atribuídos aos objetos pelo ser humano enquanto ser histórico e social. E que somente existem “no ser e pelo ser”. O que não é criado pelo homem apenas adquire um valor quando em contato com o ser. Desta forma pode-se dizer que nem um valor idealizado e nem um valor puramente material condizem com a realidade. Os valores são atribuídos por uma objetividade especial: Humana e social.

6. VALORES MORAIS E NÃO-MORAIS

Os objetos com os quais trabalhamos até aqui não se prestam a análise sobre o ponto de vista moral. Neste ponto cabe observar que os valores atribuídos aos objetos referem-se a funcionalidade dos mesmo. Como um bom canivete serve para cortar, e tão melhor ele será quanto melhor executar seu objetivo, o de cortar, mesmo que seja utilizado para assassinar alguém, apenas podemos valorizá-lo sobre o ponto de vista funcional. O ato moral de assassinar refere-se ao ser que o praticou e não aos instrumentos que utilizou. Portanto verificamos que os objetos não possuem valor moral. Apenas os atos humanos realizados consciente e voluntariamente podem ser analisados sob este aspecto.

Porto Alegre, 13 de Junho de 2005

© Vazquez