Alma Rota - Boa Música

Artur Júnior dos Santos Lopes

Estou escutando uma de minhas músicas prediletas: Alma Rota de Ramón Trujillo interpretado por Niña Pastori. Me veio o pensamento sobre minha solidão, em especial da crítica de um amigo do qual tenho imensa consideração.

A ele parece que meu distanciamento é uma escolha. Parece não perceber. A distância não se dá por uma escolha. Não posso deixar de ver e sentir como sinto e tão pouco deixar de ver como vejo. Não posso deixar de querer o que quero. Poderia deixar de ser sincero comigo mesmo, mas isso está longe da minha busca.

Y es inútil dejar de sentir

y es inútil dejar de querer

la flor que yo ví

sembrada en tu piel

No me importa que te vayas

ni tampoco que te quedes

es que tengo el alma rota

de sentir como tú no sientes

TRUJILLO

Já havia me apercebido que muitas vezes os dons carregam consigo as maldições. Algo como diriam os cosmológicos: “o ser carrega em si sua corrupção”. Eu não me surpreendo com o preço que tenho de pagar por ser assim. Eu já assumi: o custo de buscar-me a mim mesmo, que não é pequeno. E além do mais gosto de conviver comigo, uns dias mais, outros menos.

Não desfaço da importância dos outros, desde que os mesmos me aceitem como quero ser. Eu me esforço por aceitar os outros como querem ser. Se o café não me agrada, não bebo. Não pretendo modificá-lo para agradar o meu paladar. Não pretendo estar certo. Pretendo ser, apenas isso. Em algum ponto nossas perspectivas se tocam. Que bacana este momento. Mas não quero estendê-lo por mais do que o tempo saudável. Não pretendo interferir na perspectiva alheia, e também não quero que interfiram na minha. Impossível, mas a impossibilidade não inviabiliza a busca, a tentativa.

A quem diga que o rio se apresenta, através de sua forte correnteza, violento. Ainda assim prossegue: Mas não será violência maior a da margem que cerceia o rio?

Porto Alegre, 12 de maio de 2006