Preferência dentre os primatas

Artur Júnior dos Santos Lopes

Dos muitos animais que conheço, um, em especial, tem minha admiração. Sei que o gosto é muito particular. Cada um tem o seu, desta forma não quero que todos tenham o mesmo gosto que eu, mas confesso que gostaria que os que não tem, não me julgassem, apenas peço que compreendam o meu particular gosto. Sendo assim fico muito a vontade para expressar o meu encantamento com a beleza do homo sapiens.

Diante de toda as suas idas e vindas, suas contradições, fico a apreciar os outros que são como eu, como tu, como nós. Os outros de nossa espécie. Este tal ser humano. Prá mim, tem uma beleza incomparável. Dos primatas tem minha admiração em especial. Fico admirado com homens, mulheres, crianças, jovens, velhos. Me detenho a admirar a sua: beleza específica, por longo tempo. Os que são como eu. Os que são bons, os que são capazes de maldade, os que sentem inveja, os que amam, os que se frustam, os que lutam, os que ganham os que perdem, os que são ricos, os que são pobres, os que colocam as suas roupas para pertencer a um grupo, os que não admitem fazê-lo. Admiro a sua beleza. Pois há algo além disso tudo o que falei. Há um ser humano por baixo de todas as cascas. Alguém igualzinho a mim, a ti, a nós, que sente medo, que sofre, que é feliz, que é capaz de atos magníficos e também capaz de uma mediocridade impressionante. Tudo isso no mesmo ser.

É verdade que esse primata se modificou muito ao longo da caminhada. Modificou, também, o mundo no qual vivemos, onde outros animais vivem. E as modificações, creio, são infindáveis. Estamos nos modificando, o tempo todo. Estamos nascendo, morrendo, aprimorando, regredindo, tudo ao mesmo tempo.

O que confere valor ao ser humano é o fato de pertencermos a mesma espécie. O reconhecimento que o mendigo e o magnata são a mesma coisa. São seres humanos. Não são iguais, pois todos somos diferentes. Mas as diferenças estão nas suas cascas, no que se projeta sobre nós, no contexto em que estamos inseridos, no que transformamos nossas vidas. As diferenças não são o que realmente, prá mim importa. Esse ser humano, tenho que confessar: O Amo. Amo do fundo do meu coração. Amo profundamente. Amo-o além de suas cascas, e com elas também, pois não são as cascas que dão valor à este primata.

Seres humanos, até quando vamos fazer das nossas diferenças motivos para nos rejeitarmos? Quanto ainda vamos demorar para perceber que fazemos parte de um mesmo sistema? Quando vamos nos dar o direito de sermos humanos? Quando vamos tratar a possibilidade como uma benção e não como uma maldição?

Porto Alegre, 23 de Outubro de 2005