Stuart Hall - Nascimento e Morte do Sujeito Moderno

Artur Júnior dos Santos Lopes

Com a leitura do texto de Stuart podemos depreender que o indivíduo é um conceito moldável e que depende do contexto em que está inserido. Houve um conceito e uma expressão de indivíduo antes, durante e depois da modernidade. Na modernidade este conceito desvinculou-se do determinismo divino e começou a construir seu sentido apoiado na razão.

A mesmidade, uniformidade, identidade; refere-se à contribuição feita por John Locke, onde a identidade não mudava no tempo. Inclusive a identidade referia-se a capacidade do sujeito em rememorar suas experiências. Logo, percebe-se também neste pensamento, a visão de um individuo soberano ascendendo na modernidade, visão compartilhada com Descarte.

Na modernidade, a referência para o indivíduo deixa de ser a divindade e passa a ser a razão. A razão é o porto seguro para toda a atividade humana, sendo suficiente para justificar tudo.

Fiquei travado, no que se refere à essência humana perante a modernidade. Apesar da resposta estar subentendida no texto, eu não conseguia dizer que a visão da época era de um indivíduo essencialmente cartesiano. Teórico. Lógico. Matemático. Físico. Isso ocorreu por afastar-se demais da minha compreensão. Já em Marx percebemos a derrocada deste essencialismo.

A fragmentação, o deslocamento, e a desagregação, fazem parte de um discurso que pretendeu descentrar o sujeito cartesiano. Este descentramento tem com signatária a década de sessenta do século XX, quando a releitura do pensamento Marxista, fez emergir “homens que fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas”. Fica daí estampado um anti-humanismo teórico.

Logo depois temos o inconsciente, de Freud, que é o impulso de toda a vivência humana, e sobre o qual o ser não tem domínio. A vontade está subordinada ao inconsciente. Nós as percebemos no exemplo: Eu não desejo me manifestar de forma feminina, com isso reprimo todo o impulso que considere deste tipo. Mas, em determinadas situações, estas manifestações se expressam sem que eu as perceba, pois fazem parte do ser.

A lingüística também denuncia que o sujeito apropria-se de uma linguagem existente e que precisa dominá-la para se expressar. De qualquer modo o significado das palavras não são fixos e por isso ainda precisam ser interpretados dentro do seu contexto de espaço e tempo.

A genealogia, proposta por Foucault, sobre o sujeito moderno, demonstra a existência de um poder que ele chama de disciplinar e que policiam e disciplinam todas populações modernas. Compreende-se daí a necessidade de documentações de processos, padrões e tudo o que tiver o objetivo de conduzir o trabalho, a vida e as expressões do sujeito, além de medir desempenhos e discrepâncias.

Por último fator temos o feminismo, que questionou distinções entre o privado e o público. Discutiu assuntos como família, sexualidade, etc.

Parece estar claro que a identidade fixa é um ideal a muito perseguido pelo ser humano. Os movimentos da humanidade ocidental procuram uma apropriação, procuram estabelecer bases sólidas. Não se dão ao direito de perceber que existem coisas que não se pode dominar. Coisas que não tem uma racionalidade humanamente ocidentalizada. É possível que exista uma racionalidade cósmica? É possível que exista algo maior e que o ser humano não consiga compreender? Não existe razão apenas no que se refere à compreensão, na observação do ser humano? Fora do ser humano, existe uma preocupação com a racionalidade? Mesmo que as respostas sejam afirmativas, ainda cabe perguntar: E nós, não podemos nos movimentar em direção a estas questões, a fim de entender melhor como nos relacionamos com o universo?

Parece que a simplicidade universal contamina o ser humano com uma perplexidade diante da realidade. Quando o ser percebe que a explicação racional faz parte de uma pequena porção, atira-se ao desespero. Mas então a racionalidade é absurda? Esta questão que pode surgir na leitura, não me parece condizente com o que penso. Creio que o exercício da racionalidade tenha um papel fundamental na formação humana. Mas não a ponto de explicar tudo a partir da razão. É fundamental compreender que a razão é uma ferramenta humana, e portanto limitada nas suas conclusões.

Porto Alegre, 03 de Outubro de 2005