Descartes - O Discurso do Método

O Discurso do Método

Artur Júnior dos Santos Lopes

Primeira Parte

“... é insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplicá-lo bem.” (Descartes – DM)

1. Já na abertura do texto é introduzido o conceito: “Julgar de forma correta e discernir entre o

verdadeiro e o falso ... é denominado bom senso ou razão”. Para Descartes a razão é igual em todo o ser humano.

2. Torna claro seu empirismo ao explicar que o que faz com que tenhamos juízos distintos acerca das mesmas coisas não é a gradação da racionalidade, mas sim, os diferentes olhares que lançamos aos objetos. Para Descartes, é a razão que nos torna diferentes dos demais animais.

3. Introduz o método ao creditar aos estudos,que fez em sua juventude, a construção que irá apresentar a frente. Já coloca como chave para o método a dúvida, onde reside a possibilidade de busca da verdade, sendo esta “solidamente boa e importante” para chegar ao seu intento: progredir na procura da verdade.

4. Deixa, ainda, espaço para duvidar que o método seja tão valoroso. Vê na crítica uma forma de melhorar-se e melhorar, fazendo com que o método se aprimore, tendo assim uma visão processualista do método. Ao escrever pretende oportunizar aos leitores o contato com o método e que a partir disso tenham suas próprias conclusões sobre o escrito.

5. Coloca o normatizador como alguém que se sente acima dos normatizados. Descartes não se vê desta forma. 6. Descartes conta de que forma foi instruído. Da admiração ingênua do mundo intelectual parte para as dúvidas e “confusões” filosóficas, surge-lhe o estranhamento e a percepção da ignorância que está nele. Transparece seu incomodo referente à forma como se dava a sucessão de poder dentro da escola em que estudava.

7. Apresenta o quanto foram bons os estudos que teve. Coloca a finalidade de cada um deles.

8. Compara o estudo ao contato com outras culturas. Realiza a valoração dos atos, apresenta os idealismos.

9. Apresenta o bem falar (retórica) para convencer e o belo falar (poesia) como inatos do ser.

10. Apresenta a necessidade de uma base sólida para o conhecimento (matemática) afim de que não nos percamos nos charcos das linguagens que podem levar a múltiplas interpretações.

11. Ironiza a teologia.

12. Percebe a precariedade da filosofia para a determinação de “verdades”.

13. Coloca que as demais ciências, por terem como base a filosofia, ficam tão frágeis quanto ela, no que se refere a parir verdades.

14. Apresenta a forma cosmopolita que resolveu viver. Tendo contato com outras pessoas e outras culturas.

15. Percebe que, em suas viagens e contato com diferentes culturas, verdades que estavam gravadas em sua mente não correspondiam a verdades percebidas no mundo, e portanto não eram tão verdadeiras assim. Desta forma, como quem se coloca a viajar pelo mundo para conhecer, propõe-se viajar por dentro de si mesmo. Para assim poder parir a verdade que lhe pareça inconteste. Segunda Parte

16. Inicia a segunda parte informando que percebe maior perfeição em uma obra quando a mesma é realizada por uma única pessoa. Também dá especial valor para a retidão. Estabelece a forma de valoração que utilizará: O planejamento gera obras mais belas do que as obras que vem do improviso.

17. Apresenta a idéia de como poderia provocar a reestruturação da sociedade ao seu modelo:

• Primeiro iria solapar os alicerces estabelecidos com a dúvida: Quão seguros são os alicerces sobre os quais este prédio está construído?

• Se os alicerces resistissem à dúvida então poderiam seguir, pois estavam consoantes com a razão, caso contrário, deveriam ser construídos outros alicerces que dessem conta das justificativas racionais que Descartes procurava.Informa que os caminhos postos, mesmo que não condizentes com a racionalidade, eram preferidos por questão da sua utilização cômoda.

18. Faz um movimento, cauteloso, para não incomodar demais as pessoas que controlavam o que era escrito. Incita as pessoas a aderirem ao seu método classificando os ânimos de duas formas:

• Os que acreditam que podem viver sem juízos alheios;

• E os que têm consciência de que não podem viver sem juízos alheios.

19. Apresenta a forma como pensa, e o que o fez partir para a desconstrução dos juízos ora formados em busca de validação dos mesmos ou o estabelecimento de outros. Estrutura o embrionar de suas dúvidas assim:

i. Contatos com vários mestres que não apresentavam consenso no que diziam.

ii. Diferença de opiniões entre os diversos eruditos no decorrer do tempo.

iii. Diferentes opiniões variando de acordo com posições geográficas.

iv. Diferentes modas no passar do tempo chocavam as contemporâneas com as mais antigas.Atribui ao costume e ao exemplo a aderência aos modelos.Para Descartes, “as verdades” são difíceis de serem alcançadas. E se forem alcançadas serão mediante muito esforço. As massas não estão dispostas a se lançarem à busca “das verdades”.

20. Informa que preferiu a lentidão à velocidade em função desta ser mais segura. E que não pretendia dar como certo qualquer juízo antes de tê-lo examinado profundamente nas entranhas da razão.

21. Explica qual método utilizará para acertar seu alvo. Apresenta as quatro regras lógicas que irá utilizar:

i. Não aceitar nada como verdadeiro, a não ser se convencido pela ração;

ii. Repartir ao máximo as dificuldades encontradas;

iii. Estabelecer a escala de complexidade dos objetos, partindo do mais simples para o mais complexo e estabelecendo as relações entre os que precisam e os que não precisam de uma causa suficiente.

iv. Efetuar relações metódicas completas e revisões gerais.

22. Coloca a álgebra e a geometria como as ferramentas que utilizará para certificar-se das coisas, através do atrito de uma com a outra.

23. Toma como certeza as regras matemáticas e percebe ser capaz de encontrar todas as verdades através do seu método. 24. Informa que o seu método tem uma regra a seguir: partir do mais simples para o mais complexo. Resolve começar pela filosofia por entendê-lo mais urgente.

Porto Alegre, 15 de Abril de 2008

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Terceira Parte

“... é insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplicá-lo bem.” (Descartes – DM) No primeiro parágrafo da terceira parte, Descartes, apresenta a importância de termos encontrado um local seguro, onde possamos nos estabelecer e resguardar, antes de começarmos com uma desconstrução/reconstrução. Diz ter concebido suas quatro regras morais provisórias (p14-1) que fariam isso, mais adiante perceberemos que estas regras tem um grande apelo religioso.A primeira Regra Moral Provisória (RMP) é a obediência às leis e aos costumes do país. Entendendo-se, também: a religião e o comedimento. O desapego a suas próprias idéias. Elege como modelo os exemplos dos homens de seu convívio por dois motivos: 1 - a hipocrisia de seu tempo, que faz com que nem sempre todos digam exatamente o que pensam e 2 - que nem sempre se tem consciência daquilo que se pratica. Logo, para Descartes, o que se pratica efetivamente está isento destas duas distorções (p14-2a). O comedimento se refere ao primeiro parágrafo da primeira parte (p1-1ª), onde crê que a velocidade pode levar a errar muito mais quando empregada em caminhos incorretos. Pois também tornaria o retorno para verdade impossível. Aponta ainda para o extremismo como sendo algo que rouba a liberdade. Percebia que as coisas estavam em relações umas com as outras, logo, não eram fixas, e poderiam mudar de acordo com o tempo. Portanto a inflexibilidade comprometia o encontro com a verdade.A segunda RMP era a de ser o mais firme e decidido possível nas suas ações. Reconhece que nem sempre se pode estar certo de algo. Percebe a importância do que seja “mais provável”. E mesmo quando não se consegue chegar ao mais provável a escolha que é posta em prática já se justifica como verdadeira, pois é a escolha possível. (p15-3).A terceira RMP era: quando em conflito com o mundo ou com o destino, modificar-se a si mesmo ou seus desejos. O única coisa que está completamente em nosso poder é o nosso pensamento. Quando fazemos o melhor que podemos os resultados no mundo não importam. E que o afeto por qualquer coisa que não sejam apenas os pensamentos trazem problemas. Estes problemas foram vencidos pelos filósofos antigos, que perceberam que o que lhes tornavam ricos não era a materialidade e sim a relação que tinham com a liberdade de quem sabe de suas limitações e as respeitam (p15-4ab).A quarta RMP era o compromisso de instruir-se e procurar progredir aprendendo sempre mais e mais. Rendendo-se ao processo de submeter todo o conhecimento proposto à razão. Apenas dá algo como certo após ser conferido não por si mesmo, mas pelo método (p17-5a). Relaciona o agir bem com o bem julgar (p17-5b).No final da terceira parte apresenta como foi que constituiu o método, mantendo as crenças religiosas e afastando tudo o que não mais podia ser assegurado racionalmente pelo método, os conhecimentos adquiridos através de seus nove anos de viagens e o contato com as mais diversas populações e as mais diversas culturas. Assim também fugindo da ânsia dos colegas e do fulgor das multidões que poderiam comprometer o seu trabalho na busca de satisfazer as ânsias.

Quarta Parte

No primeiro parágrafo já apresenta as suas meditações: Mesmo sendo contrário a tudo que era comum em sua época, decidiu-se por duvidar de todas as certezas. Colocou em cheque o empirismo e o racionalismo, informando que podem se cometer erros, inclusive no raciocínio geométrico. Fundou o cogito ergo sum.Neste ponto apresenta a dualização do corpo e da alma. Onde o ser pensante, o pensamento (alma) é distinto do corpo e existe por si só. (p19-2ab)Apresenta o princípio para fundar sua filosofia a partir do cogito (p19-3).Coloca a formulação de onde vêm os pensamentos. Apresenta a prova da existência de Deus. (p20-4ab). Utiliza-se da fórmula lógica “Nada vem do Nada”, logo a idéia de perfeição que tem é emanada de alguém, mais perfeito do que o autor e do qual o autor depende. Esse alguém mais perfeito é Deus. Cria que se todo o conteúdo do saber partisse dele, para ele não existiriam limites do saber. Descartes percebia-se limitado, logo, sua limitação era imposta por uma idéia de perfeição que emanava de um ser perfeito. Ainda coloca que um ser, para ser perfeito não pode ter dependências. Logo Descartes se via dependente de deus, mas não via deus dependente de nada pois era deus a suma perfeição.Coloca as demonstrações geométricas como dependentes do raciocínio de alguém e a satisfação de determinadas regras geométricas (triângulo ou esfera) mesmo que não existam evidentes no mundo, eles existem em um plano específico: o da geometria. E que deus é ou existe, pelo menos do mesmo modo.Apresenta a necessidade dos juízos para que possamos conhecer algo. Os sentidos não podem conhecer coisas fora da materialidade. Por isso não podem conhecer a deus nem a alma que são mais sutis e não estão à disposição dos sentidos, apenas podem ser alcançadas através do intelecto.Demonstra que os sentidos não podem nos garantir a existência das coisas, visto que podemos estar sonhando e que na verdade nada existe. Coloca ainda que a perfeição percebida pelo ser humano é qualidade de deus e que a imperfeição é uma falha, uma aberração que é simplesmente advinda do nada.

Reafirma a existência de deus e da alma como sendo as expressões da perfeição e da capacidade de raciocínio. E que os sentidos não podem nos conduzir a sabedoria. Apenas a razão pode fazê-lo. E esta razão é de inspiração divina.

Porto Alegre, 22 de Abril de 2008

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Quinta e Sexta Partes

É possível que um robô execute as tarefas humanas? Limpar, fazer massagem, etc. Já existem robôs que fazem isso. Estão por aí na mídia. Alguns imitam animais de estimação. Mas você crê, que robôs, possam argumentar, posicionarem-se criticamente a respeito de assuntos filosóficos, ter sentimentos?Estas questões que parecem muito pertinentes ao século XXI foram tratadas já no século XVIII por um pensador francês chamado René Descartes. Na obra Discurso do Método traz em sua quinta e sexta partes assuntos como estes além de muitos outros. Segue uma breve descrição dos assuntos tratados por Descartes neste texto. Descartes crê que a abordagem de questões controvertidas trazem inimizadas por isso escrevo o Discurso do Método. É um comentário para preparar a sociedade do século XVIII para o Método.Apesar de fixado nas demonstrações dos geômetras, percebe na natureza algumas leis seqüências, estabelecida por deus, e fixadas na alma dos seres viventes que lhe ensinaram muitas verdades úteis e importantes.Fala sobre o tratado e o impedimento de publicá-lo e apresenta-o resumidamente. Para ser mais sutil não se preocupa em apresentar tudo que pensa mas procura apresentar da melhor forma possível o que lhe é mais claro. Utiliza-se da metáfora do pintor, falando sobre a luz, a sombra e as relaciona ao conhecimento:De onde provem o conhecimento (luz);Como são transmitidos (os céus);Onde são refletidos (planetas);E a respeito da coisa em si (corpos);O que percebe as coisas (o ser humano); Apresenta sua apreciação sobre a cosmologia a partir da criação de um novo mundo que seria gerado pela movimentação de energia que Deus realizaria. E em função de leis universais, também criadas por Deus, o novo mundo criado seria exatamente igual ao nosso. Até mesmo hoje parece atraente a idéia criacionista se pensarmos no processo de vida e de morte do ser humano. A vida se faz e se desfaz como se obedecesse a uma lei universal que realmente parece haver. Seria esta natureza, esta lei universal o deus de Descares?Procura demonstrar os efeitos a partir das causas, fala da criação humana a qual é dada a forma e no coração é colocado um calor, para Descartes, do tipo do calor advindo de reações químicas, como a fermenta cão do vinho. Não crê que advenha da alma a animação humana. A alma cabe pensar. Inclusive percebe a alma como uma parte distinta do corpo.Para sua justificativa apresenta o funcionamento circulatório. Uma aula de anatomia, onde aproveita para colocar suas questões epistemológicas.Onde se processam as alterações no cérebro que permitem a mudança da vigília pra o sonoOnde os fatores externos impactam no cérebroOnde os fatores internos impactam no cérebro.Está observando o corpo humano sobre as vistas da mecânica.Faz também especulações sobre a robótica. Traz a questão: Um robô poderia equiparar-se ao ser humano? Para responder separa a questão em duas partes: 1º mecanicamente poderia ter as mesma capacidades. 2º Para Descartes não poderiam articular um discurso e também que se dariam a algum tipo de especialização, assim sendo excelente para algumas ações e não tão bom em outras. Logo, para Descartes, é moralmente impossível para uma máquina assemelhar-se ao ser humano.Esta mesma distinção Server para os seres racionais e para os seres irracionais.No final supões que a alma imortal mesmo que não possa ser removida do poder da matéria. Já na sexta parte, Descartes fala sobre o seu tratado e a vontade de publicá-lo que ficou postergada ao perceber que alguns escritos que foram publicados por outras pessoas anteriormente haviam sido censurados por pessoas influentes da sociedade.Falou da importância de transmitir o conhecimento para outros com a finalidade controlar a natureza e assim melhorar a saúde humana. Percebeu também que a transmissão do conhecimento além de colaborara par a perpetuação, também colabora para o aperfeiçoamento do conhecimento em relação ao tempo. Pois percebia que o conhecimento aperfeiçoado a medida que se consegue propor teorias novas e na medida do possível refutá-las. Cria não poder realizar tudo isso só. Precisava da colaboração de tantos quanto pudesse cooptar par sua atividade. Assim propôs-se a continuar escrevendo tudo o que lhe fosse possível e com o máximo de cautela.Descartes crê poder haver oposições aos seus pensamentos. E reconheceu que são úteis para mostrar seus equívocos, para melhor ser compreendido e para que se acrescente novas invenções.A respeito do compreensão das coisas percebe que conseguimos compreender melhor o que criamos do que o que sabemos pelos outros. Percebe, também que há deturpação não intencional causada pela transmissão de seus conhecimento.Apresenta que algumas vezes , os seguidores de alguns filósofos coloca-se em posições como seus mestres frente a coisas que o mentor nunca havia se coloca a pensar.Fala que os filósofos de seu tempo sõ como cegos e que para bater-se com eles é necessário que ele penetre em uma “adega escura”. Compara seu método a janelas que coloca nesta adega e que a ilumina.Descartes coloca que a dificuldade que teve para aprender lhe proporcionaram novas habilidades que permitiram maior profundidade em sua obras.Coloca que as pesquisas se realizam com maior proveito, velocidade e precisão quando são remuneradas.Apresenta os dois motivos para sua publicação. 1-Fazer com que os outros creiam não serem criminosos seus escritos que (2) legar a sociedade a melhor que lhe fosse possível.Solicita a critica da sociedade de seu tempo para poder analisar e responder se necessário. Crê ter escrito de maneira a apresentar algumas de suas idéias.Procura, através de seus escritos romper com as tradições e estabelecer uma nova tradição mais racional.Conclui com suas intenções pra com a ciência colocando a finalidade de explorar a verdade e de não se comprometer com nada diferente disso.

Porto Alegre, 08 de Junho de 2008